quinta-feira, 17 de junho de 2010

A escrita, o blog e os fakes

Abro janelas virtuais e adentro nos espaços criados pela escrita e pelas imagens ali depositadas pelos seus autores (?). Penso nas afirmações de Heiddeger ao dizer que somos "criadores de mundos", e assim procuro recepcionar tais janelas como pretensões de apresentarem "pontas de Icebergs" dos mundos ali mostrados pelos seus criadores.

Penso no meu blog, no meu fotolog, como se constituissem destas pequenas ilhas (vide Fernando de Noronha) que são a ponta visível das cordilheiras assentadas em mares abissais, protegidas das incursões turisticas típicas dos que visitam os caminhos virtuais dos internautas.

Leio atentamente as narrativas de autores (muitos para mim desconhecidos) que mostram visões de mundo desprovidas de sinais da experiência, do atravessamento das palavras em seus corpos existenciais. Lamentavelmente, leio alguns textos e vejo algumas imagens atravessados por signos de realidades produzidas pelos "mass media", dedicados tão somente à produção de icones voltados para a representação dos objetos de consumo transformados em "objetos de desejo".

Percebo o tratamento dado às emoções, aos afetos e a sexualidade, como coisas colocadas em prateleiras ricamente ornamentadas das lojas exclusivas dos shoping center da vida. Vidas vazias de sentidos, tanto da produção de sentido, como da apreensão de sentido.

Fico pensando que a "leveza do ser" ficou tão sutil que este ser não mais habita o ente que constitui cada um de nós, ente que precisa ser. No "mundo líquido" anunciado pelo Baumann, a memória não existe, tão somente o contato epidérmico condicionado pela mediação das grifes, invúcros que travestem os corpos modelados numa forma única e impessoal. A memória enquanto história individual e coletiva, enquanto lembrança e esquecimento, é fragmentada por enunciados de efeito estético duvidoso e vazia de depoimentos e narrativas vividos.

Arre, estou cansado de fakes, perfeitos, apolíneos e sempre colocados acima do nosso mundo sublunar. E me pergunto: será que na completude do ciclo da finitude do homo sapiens sapiens, para quem será o requiem? quem será a criatura a ser pranteada? Já que o Criador (o Designer) não cultiva a fragilidade dos meros e simples mortais.